No dia 1º de janeiro de 2023 um novo governo assume a direção do país. Com ele, uma série de expectativas em relação ao comportamento do mercado e o quanto isso irá interferir diretamente nas variações de preço e no consumo. Por conta disso, a equipe editorial da Revista Marcenaria SIM ouviu especialistas a fim de desvendar incógnitas, esclarecer dúvidas e direcionar ações, especificamente em nosso segmento, que contribuam com as decisões empresariais a serem tomadas ao longo do próximo ano.

Começamos com uma notícia positiva: a perspectiva em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de uma queda da inflação cheia para 2023. Isso se deve ao fato de o Brasil ter se antecipado em relação aos demais países quanto à política econômica adotada no pós-pandemia, que resultou em uma inflação menor quando comparada com a maioria dos demais países, bem como nosso país conseguiu também manter estimativas de crescimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

“2022 foi um ano difícil para o segmento moveleiro, isso porque, após dois anos de pandemia, o setor de serviço teve forte recuperação com viagens, eventos, festas, bares e restaurantes, despesas que competiram diretamente com os investimentos domésticos. Para 2023, projeta-se um equilíbrio maior no orçamento familiar, o que deve favorecer o setor de construção e reformas em geral”, antevê Guilherme Setúbal Souza e Silva, Gerente Executivo de ESG na Duratex.

Por sua vez, Newton Guimarães, executivo da Fundação de Dados – empresa especializada na geração e consolidação de dados para o mercado de construção civil e móveis – acredita que, com a alternância

de governo, enquanto não houver definições consistentes sobre a política econômica a ser adotada, permanecerá uma elevada incerteza e imprevisibilidade, que somente poderá ser reduzida quando tivermos informações mais claras sobre como será reorganizado o orçamento de 2023, além do comprometimento, por parte do novo governo, com a responsabilidade fiscal, pressuposto básico para políticas sociais efetivas e duradouras. “Enquanto tais pontos não estiverem claros – não só verbalmente, mas também nas atitudes – vivenciaremos uma crise de confiança, que retém gastos das famílias e investimentos das empresas”, garante Newton.

A verdade é que os últimos anos foram uma “montanha-russa” nos mais diferentes aspectos da vida, dos negócios e nos mais diversos segmentos, incluindo — e com destaque — o moveleiro, que após um período conturbado no segundo trimestre de 2020, devido à primeira onda da pandemia, encontrou na readequação de nossas rotinas — o então chamado “novo normal” — um ambiente bastante favorável para a venda de móveis, tanto no mercado interno quanto nas exportações.

Esse fator se estendeu pelo ano de 2021, alavancando a produção e, consequentemente, intensificando as bases comparativas para 2022. “O primeiro semestre deste ano não foi positivo e, ainda que o segundo semestre se mostre mais aquecido, especialmente por ocasião do fim de ano, décimo terceiro salário, Copa do Mundo, Black Friday e Natal, não será suficiente para recuperarmos o que perdemos na primeira metade do ano. Sob o meu ponto de vista, a indústria nacional entra em 2023 com muitas dúvidas, tanto no campo operacional, como no político e econômico”, avalia Carlos Bessa, CEO da Plataforma Setor Moveleiro.

A indústria está preparada para atender um eventual novo boom de consumo, como o ocorrido durante o ápice da pandemia de COVID-19?

O Brasil é o sexto maior produtor de móveis do mundo e nossa indústria vem investindo cada dia mais em novas tecnologias de produção e no desenvolvimento de produtos, o que nos deixa ao menos mais próximos de estarmos preparados para atender às demandas e urgências do mercado, tanto em capacidade produtiva, quanto em adequação de produtos e serviços. “Neste cenário, os investimentos em máquinas e equipamentos no setor, por exemplo, saltaram de R$ 1,23 milhão em 2019 para mais de R$ 2,16 milhões em 2021. Quando comparamos com 2020, quando foram investidos cerca de R$ 785 mil — um dos piores desempenhos do indicador na série histórica —, o salto é ainda maior: acima dos 176%”, descreve Carlos Bessa. Um consenso observado entre os especialistas é de que a indústria moveleira sentiu bastante os primeiros impactos da pandemia, mas também aprendeu muito com eles. “Porém, um problema que ainda persiste é a questão logística e de suprimentos de matérias-primas e insumos, que fogem muitas vezes do controle de revendas e fabricantes, seja na indústria ou na marcenaria”, alerta o CEO da Plataforma Setor Moveleiro.

Há um perfil de consumidor em destaque e que mereça uma atenção especial por parte dos profissionais?

O mobiliário residencial será sempre foco de atenção. Agora, inclusive, com muito do que víamos no mundo corporativo sendo adaptado também para o ambiente doméstico, na era do home office. Mobiliário inteligente, ergonômico e que, sobretudo, tenha também o design como valor agregado, vem ganhando cada vez mais espaço. Alto padrão urbano, casas de veraneio e mercado corporativo – com a volta ao trabalho presencial – também não devem ser menosprezados. Quanto ao perfil socioeconômico, consumidores das classes A e B são menos frágeis às desacelerações – ou mesmo crises econômicas e crises de confiança – quando comparados aos consumidores das classes C e D. “Até o primeiro semestre de 2021, as vendas de imóveis novos eram, justamente, puxadas pelos consumidores de maior poder aquisitivo, criando perspectivas favoráveis para vendas de móveis a esse público. Não está claro até quando perdurará essa tendência, podendo, assim como vimos no setor moveleiro, ter sido um ciclo de superaquecimento com prazo de término e, em seguida, de queda. Porém, deve-se ficar atento ao fortalecimento do Programa Casa Verde e Amarela, que voltará a ser o Minha Casa Minha Vida, a partir de 2023, readequado à nova realidade da inflação dos materiais de construção, no atual governo, e que deverá ser potencializado pelo próximo governo”, esclarece Newton Guimarães, da Fundação de Dados.

Por fim, como a mudança de governo e a chegada de um novo grupo político ao poder pode afetar o mercado?

É fato que vivemos um momento sensível, de muita dualidade e insegurança, com o mundo fragmentado por questões políticas e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, choques nos preços das commodities, um pós-pandemia com ainda muitos rastros negativos, início de recessão, estresse no mercado financeiro e um movimento em direção à desglobalização, após os resultados das eleições presidenciais no Brasil. Além do modelo complexo e ineficiente de cobrança de impostos, que freia o crescimento da economia, os altos tributos e a falta de qualificação profissional também são vistos como obstáculos para ampliar as oportunidades de negócios no país. “É tempo de lançarmos um olhar no atual cenário econômico e industrial global a fim de desenharmos novas perspectivas e estratégias para o futuro do nosso país. Mudanças climáticas, inflação, comércio, abastecimento e, mais recentemente, inclusão econômica e moedas digitais, são alguns dos assuntos da vez. Devendo, então, serem foco de atenção entre os empresários brasileiros, com forte impacto no setor moveleiro”, alerta Carlos Bessa. Por fim, vale ressaltar uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), indicando que 56% dos empresários apontam a reforma tributária como a principal prioridade para o país. Entendendo-a não só como um passo imprescindível para a melhoria do ambiente de negócios, gestão e produção, mas também da geração de emprego e renda. Na opinião de 48% dos executivos, é preciso reduzir os impostos sobre a folha de pagamento e 35% apontaram, entre as principais medidas para gerar emprego, a necessidade de fortalecer a capacitação profissional no Brasil. “Com o tempo, o mercado vai entender que o novo governo também vai ter foco na construção civil, que é um setor muito importante para a economia. Por conta, disso vejo um 2023 bastante favorável para o mercado moveleiro”, finaliza Guilherme Setúbal.

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